A dosagem sérica dos níveis de troponina cardíaca (cTn) é uma ferramenta importante na investigação de dor torácica, quando há uma suspeita de etiologia cardíaca.
A troponina cardíaca I (cTnI) possui elevada especificidade e sensibilidade para o diagnóstico de infarto agudo do miocárdio.
Porém, outras causas de dano miocárdico podem elevar a cTnI.
Um interferente na dosagem desse analito é a presença da chamada macrotroponina, que provoca um resultado elevado persistente dos níveis de cTnI.
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O que é a macrotroponina
A macrotroponina é um grande complexo formado por moléculas de cTnI ligadas a autoanticorpos IgG.
Esses complexos possuem depuração sérica mais lenta quando comparados às moléculas normais de cTnI.
Na população em geral, a prevalência desses autoanticorpos contra troponinas cardíacas fica próxima de 10%. Similar ao que ocorre com os autoanticorpos da tireoide (anti-TPO e anti-Tg).
A origem desses autoanticorpos ainda não é conhecida. Mas algumas hipóteses já foram propostas:
- Mimetismo molecular de antígenos ambientais ou de micro-organismos
- Imunização pela cTnI liberada durante um dano miocárdico
- Homologia pela troponina I esquelética liberada no dano muscular
O problema da macrotroponina
As cTn são dosadas por imunoensaios, como a quimioluminescência, em que anticorpos anti-cTn (do kit reagente) ligam-se às moléculas de cTn presentes na amostra do paciente.
Por ter uma meia-vida mais longa, a macrotroponina pode interferir nos resultados de troponina cardíaca sérica, já que os testes laboratoriais não conseguem distinguir entre os dois.
O resultado é uma elevação crônica de cTnI inconsistente com o quadro clínico do paciente.
Mecanismos semelhantes já foram descritos para a observação de elevação persistente de outros analitos como a macroprolactina e a macroamilase.
Elevações falsas são um problema até mesmo nos testes de cTnI de alta sensibilidade (hs-cTnI).
O que fazer na suspeita de macrotroponina
O principal indicativo da presença de macrotroponina é um paciente com cTnI persistentemente elevada mesmo sem manifestações compatíveis ou após a investigação clínico-diagnóstica não apresentar outras alterações.
Outras causas cardíacas e não cardíacas de aumento de troponina devem ser excluídas.
A presença de interferentes analíticos também deve ser investigada pelo laboratório, como anticorpos heterófilos, anticorpos humanos anti-animal, fator reumatoide e filetes de fibrina.
Para confirmar a presença de macrotroponina, cTnI e IgG podem ser dosados antes e depois do tratamento da amostra com proteína A, proteína G ou antissoro com IgG anti-humano.
É possível também fazer a precipitação de imunoglobulinas usando o polietilenoglicol (PEG).
Esse tratamento faz a depleção de imunoglobulinas da amostra, deixando assim as moléculas de cTnI livres. Porém, é um processo laborioso.
Uma abordagem mais simples seria analisar a amostra numa plataforma diagnóstica diferente (outras marcas e reagentes).
Outra alternativa seria o acompanhamento do paciente com dosagens seriadas de CK-MB ou troponina cardíaca T (cTnT).
Os casos de macrotroponina envolvendo a cTnT são menos prevalentes.
Além disso não há evidências, até o momento, da ocorrência simultânea de macro-cTnT em pacientes com macro-cTnI.
Conclusão
A ocorrência de macrotroponina não é um evento comum.
Uma elevação nos níveis de cTn deve sempre ser investigada a fundo antes de se suspeitar de macrotroponina.
Há casos em que a macrotroponina não está associada a nenhuma patologia ou histórico cardíaco, sendo apenas um interferente no ensaio analítico.
Mas, é importante ressaltar que a presença de macrotroponina não exclui possíveis patologias cardíacas.
Referências
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Wong, Sophia L et al. “Macrotroponin causing elevation in cardiac troponin I.” The Canadian journal of cardiology vol. 30,8 (2014): 956.e5-6. doi:10.1016/j.cjca.2014.03.037
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