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Por que as enzimas TGO e TGP tiveram seus nomes alterados? | Biomedicina Padrão

Por que as enzimas TGO e TGP tiveram seus nomes alterados?

Por Brunno Câmara - quinta-feira, março 09, 2023

 

No Brasil, ainda é muito comum usarmos os termos TGO (Transaminase Glutâmico Oxalacética) e TGP (Transaminase Glutâmico Pirúvica) para nos referirmos a essas enzimas de grande importância clínica.

Porém, você sabia que esses não são os termos mais adequados e atuais?

Em 1972, a Federação Internacional de Química Clínica (IFCC) recomendou que os nomes dessas enzimas fossem alterados para refletir melhor a especificidade de seu substratos.

Em 1983, uma nova revisão da IFCC recomendou que os nomes dessas enzimas fossem alterados para refletir sua função (transferência de um grupo amina de um aminoácido para um cetoácido).

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Continue agora com a sua leitura do texto. Espero que goste.

De TGO para AST

A Aspartato Transaminase (AST / código oficial EC 2.6.1.1) era conhecida como Transaminase Glutâmico Oxalacética (TGO).

A mudança do seu nome aconteceu por que foi identificado que ela catalisa, primariamente, a transferência de um grupo amina do ASPARTATO para o 2-OXOGLUTARATO, e não do oxaloacetato para o glutamato.

De TGP para ALT

A Alanina Transaminase (ALT / código oficial EC 2.6.1.2) era conhecida como Transaminase Glutâmico Pirúvica (TGP).

A mudança do seu nome aconteceu por que foi identificado que ela catalisa, primariamente, a transferência de um grupo amina da ALANINA para o 2-OXOGLUTARATO, e não do piruvato para o glutamato.

Apesar dessas mudanças, os termos antigos ainda constam nas listas de nomenclaturas sinônimas dessas enzimas.

“Ah, Brunno, então é errado falar TGO e TGP?”

Não é errado, por enquanto. Mas, também, não é o mais adequado. Na prática clínica nada muda.

Mudanças em nomenclaturas médicas/científicas podem demorar muito para serem incorporadas na linguagem.

Nesses casos, há um momento em que os dois termos são utilizados, até que o novo sobreponha o velho.

No caso dessas transaminases, a mudança no Brasil está demorando a “pegar”. Os nomes TGO e TGP ainda são muito difundidos entre os profissionais de saúde.

Fora daqui, a mudança já foi bem incorporada e o nomes mais comumente utilizados são AST e ALT.

Função enzimática

As transaminases são enzimas da classe das transferases

Essa classe corresponde a enzimas que fazem a transferência de um grupo (ex.: metil) de uma molécula (doadora) para outra molécula (receptora).

Especificamente, as transaminases realizam uma reação chamada de transaminação, ou seja, transferem um grupo amina de um aminoácido para um cetoácido.

Leia mais: TGO/AST e TGP/ALT como biomarcadores hepáticos

Aspartato transferase (AST)

Como dito anteriormente, a AST faz a transferência de um grupo amina do aminoácido aspartato para o cetoácido 2-oxoglutarato.

Como produto dessa reação, tem-se a formação de oxaloacetato e glutamato.

A conversão do aspartato para oxaloacetato é muito importante, pois ele esse é precursor de muitos outros aminoácidos, como asparagina, metionina, treonina e isoleucina.

Essa conversão também é importante na regulação da gliconeogênese (produção de glicose a partir de outras fontes, como os aminoácidos).

Por fim, essa reação também está relacionada à produção de energia, já que é uma das etapas do ciclo do ácido cítrico (ciclo de Krebs).

Alanina Transaminase (ALT)

De modo semelhante, a ALT faz a transferência de um grupo amina do aminoácido alanina para o cetoácido 2-oxoglutarato.

Como produto dessa reação, tem-se a formação de piruvato e glutamato.

A ALT também atua na gliconeogênese, por meio da conversão de piruvato para alanina, que pode ser transportada para o fígado e convertida novamente em piruvato e então em glicose. O piruvato é muito importante no metabolismo da glicose.

Outra função importante da ALT, encontrada primariamente no fígado, é a produção de glutamato

O glutamato é um aminoácido intermediário na excreção de amônia, que passa por uma reação de deaminação (remoção de grupos amina).

Então, podemos dizer que a ALT participa da conversão hepática de amônia (tóxica) em ureia (menos tóxica).

Referências

Enzime Classification (EC) Protein Data Bank (PDB). Enzyme Structures Database.

Moriles KE, Azer SA. Alanine Amino Transferase. [Updated 2022 Nov 2]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-.

Lala V, Zubair M, Minter DA. Liver Function Tests. [Updated 2022 Oct 5]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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