Tudo o que o Biomédico precisa saber sobre Protrombina e Trombina
A protrombina é uma proenzima (zimogênio) que quando clivada dá origem à trombina, enzima ativa com atividade serino protease (cliva ligações peptídicas).
Estrutura
O peso molecular da protrombina é de cerca de 72 kDa. Seu gene está localizado no braço curto do cromossomo 11 (11p11-q12).
Ela é composta de quatro domínios:
- 1 domínio Gla (N terminal)
- 2 domínios Kringles
- 1 domínio serino protease semelhante à tripsina (C terminal)
Síntese
A protrombina (também conhecida como Fator II) é produzida pelo fígado e modificada por uma reação dependente da Vitamina K.
A vitamina K atua na carboxilação de resíduos de glutamato da proteína para formar γ-carboxiglutamato (Gla).
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O domínio Gla tem alta afinidade de ligação ao Cálcio. Na presença desse, os resíduos Gla promovem a ligação da protrombina na membrana fosfolipídica celular.
No plasma, após um dano endotelial, o Fator X ativado (FXa) cliva a protrombina em dois sítios dando origem à trombina (Fator IIa).
Essa reação é potencializada pela ligação do FXa ao Fator V ativado (FVa), formando o complexo protrombinase (FXa + FVa).
O complexo protrombinase cliva os domínios Gla e Kringles, deixando somente o domínio serino protease, que é a trombina ativa.
Função da trombina
Na coagulação, a trombina converte:
- FXI em FXIa
- FVIII em FVIIIa
- Fibrinogênio (FI) em Fibrina (FIa)
- FXIII em FXIIIa
Além disso, ela promove ativação e agregação plaquetária via ativação de receptores ativados por proteases (PAR) presentes na membrana das plaquetas.
Já expliquei em detalhes aqui como ocorre a conversão de fibrinogênio em fibrina.
Feedback negativo
A trombina também atua na ativação da Proteína C (PC), um dos anticoagulantes naturais do organismo.
Tudo o que um biomédico precisa saber sobre a Proteína C
Para isso, ocorre a formação de um complexo composto por PC, trombomodulina, trombina e o receptor de PC nas células endoteliais (EPCR).
Após a clivagem pela trombina, o peptídeo ativado é liberado dando origem à Proteína C ativada (PCA).
Quando junto a seus cofatores, a PCA proteoliticamente inativa FVa e FVIIIa de maneira dependente de cálcio e membrana.
Com a inativação desses dois fatores, a formação de trombina diminui, prevenindo a coagulação e potencialmente a trombose.
A trombina também é inativada pela antitrombina (AT III), uma pequena glicoproteína inibidora de serino proteases (serpin).
Tempo de protrombina (TP ou TAP)
O TP é um teste laboratorial de triagem para avaliar as vias extrínseca e comum da coagulação.
Portanto, avalia os seguintes fatores da coagulação: FVII, fibrinogênio, protrombina, FV e FX.
O objetivo é verificar como está a atividade desses fatores na formação de fibrina em pacientes com problemas de coagulação, como doença hepática, uso de varfarina e deficiência de vitamina K.
Tempo de trombina (TT)
O TT é um teste laboratorial em que há adição de trombina purificada no plasma do paciente para verificar a capacidade e tempo de conversão de fibrinogênio em fibrina.
O objetivo é verificar se há anormalidades quantitativas e qualitativas do fibrinogênio.
Referências
Wolberg AS. Determinants of fibrin formation, structure, and function. Curr Opin Hematol. 2012 Sep;19(5):349-56. doi: 10.1097/MOH.0b013e32835673c2. PMID: 22759629.
Davie EW, Kulman JD. An overview of the structure and function of thrombin. Semin Thromb Hemost. 2006 Apr;32 Suppl 1:3-15. doi: 10.1055/s-2006-939550. PMID: 16673262.
Di Cera E. Thrombin. Mol Aspects Med. 2008 Aug;29(4):203-54. doi: 10.1016/j.mam.2008.01.001. Epub 2008 Feb 1. PMID: 18329094; PMCID: PMC2491495.