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Tudo o que o biomédico precisa saber sobre o Fibrinogênio | Biomedicina Padrão

Tudo o que o biomédico precisa saber sobre o Fibrinogênio

Por Brunno Câmara - segunda-feira, junho 28, 2021

O fibrinogênio (Fator I) é um complexo glicoproteico (cadeias polipeptídicas associadas), sintetizado no fígado.

Após um dano vascular, ele é convertido pela enzima trombina em fibrina, com a finalidade de formar um coágulo.

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Além disso, o fibrinogênio é uma proteína de fase aguda positiva, ou seja, seus níveis plasmáticos aumentam numa resposta inflamatória sistêmica.

Estrutura do Fibrinogênio

O fibrinogênio é composto por dois trímeros proteicos (2x três cadeias polipeptídicas).

Cada trímero contém uma cadeia alfa (α), uma cadeia beta (β) e uma cadeia gama (γ).

No retículo endoplasmático, as cadeias são unidas por pontes dissulfeto ([α + β + γ] x2).

No complexo de Golgi, a molécula é glicosilada, hidroxilada, sulfatada e fosforilada para formar a sua forma madura que será liberada na circulação.

O fibrinogênio maduro é uma proteína longa e flexível com três nódulos.

Os dois nódulos terminais compõem os Domínios D, contendo as cadeias β e γ.

O nódulo central compõe o Domínio E, contendo as duas cadeias α.

Conversão de Fibrinogênio em Fibrina

A conversão de fibrinogênio monomérico em fibrina (Fator Ia) polimérica é mediada pela enzima trombina (Fator IIa).

A trombina liga-se ao Domínio E do fibrinogênio (central) e cliva dois pequenos peptídeos: fibrinopeptídeo A (FpA; 16 aminoácidos) e fibrinopeptídeo B (FpB; 14 aminoácidos).

Essa clivagem expõe os sítios A e B que interagem com as moléculas adjacentes para formar o polímero de fibrina solúvel.

Para estabilizar o polímero de fibrina, o Fator XIII ativado (pela trombina) liga os polímeros entre si, dando origem à fibrina reticulada insolúvel.

A polimerização ocorre de maneira espontânea e pode se alongar indefinidamente em qualquer direção. Por isso, quando a fibrina é gerada, ocorre ativação do sistema fibrinolítico, simultaneamente.

Dosagem de Fibrinogênio

Aplicações

O teste de fibrinogênio é usado para investigar anormalidades relacionadas à hemorragias ou coagulopatias, como por exemplo:

  • Distúrbio hemorrágico
  • Eventos trombóticos
  • Suspeita de coagulação intravascular disseminada (CIVD)
  • Alterações no TP, TTPA e  Dímero-D
  • Acompanhamento de condições crônicas, como hepatopatias
  • Alterações quanti e qualitativas (congênitas e adquiridas)

Metodologias

Para a determinação do fibrinogênio é utilizado plasma colhido com citrato de sódio.

Ele pode ser dosado utilizando o princípio de Clauss (coagulométrico/função) ou a dosagem direta da proteína (antígeno) por imunoturbidimetria.

O método de Clauss baseia-se na habilidade que o fibrinogênio possui de formar fibrina após ser exposto a altas concentrações de trombina purificada.

O resultado do tempo (em segundos) que o plasma demorou para coagular é interpolado num gráfico de curva padrão, feita com diluições de um plasma referência.

Valores de referência

Em adultos, os valores ficam em torno de 200 e 400 mg/dL.

Em recém-nascidos, os valores variam de 125 a 300 mg/dL.

Níveis abaixo de 100 mg/dL são críticos.

Interpretação dos resultados

As anormalidades congênitas de fibrinogênio são divididas em dois tipos:

  • Tipo I (quantitativa): afibrinogenemia e hipofibrinogenemia
  • Tipo II (qualitativa): disfibrinogenemia e hipodisfibrinogenemia

Na disfibrinogenemia, os níveis plasmáticos de fibrinogênio estão normais, porém as moléculas são disfuncionais. 

Ou seja, utilizando o método coagulométrico (Clauss) uma alteração é detectada, mas a dosagem da proteína por imunoturbidimetria estará dentro dos valores de referência.

Diminuição

  • CIVD
  • Doença hepática
  • Deficiências congênitas:
    • Hipofibrinogenemia
    • Afibrinogenemia
    • Disfibrinogenemia
    • Hipodisfibrinogenemia

Aumento

  • Aumento da idade
  • Sexo feminino, gravidez, contracepção oral
  • Pós menopausa
  • Reação de fase aguda
  • Neoplasia disseminada


Referências

Hsieh L, Nugent D. Factor XIII deficiency. Haemophilia. 2008;14(6):1190-1200. doi:10.1111/j.1365-2516.2008.01857.x

Schmitz, T., Bäuml, C. A., & Imhof, D. (2020). Inhibitors of blood coagulation factor XIII. Analytical biochemistry, 605, 113708. https://doi.org/10.1016/j.ab.2020.113708

Riedel, Tomas et al. “Fibrinopeptides A and B release in the process of surface fibrin formation.” Blood vol. 117,5 (2011): 1700-6. doi:10.1182/blood-2010-08-300301

Stang, L. J., & Mitchell, L. G. (2013). Fibrinogen. Methods in molecular biology (Clifton, N.J.), 992, 181–192. https://doi.org/10.1007/978-1-62703-339-8_14

Williams Hematology, 9ª edição.

Laboratório Hermes Pardini.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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