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Tudo o que o Biomédico precisa saber sobre o Peptídeo-C | Biomedicina Padrão

Tudo o que o Biomédico precisa saber sobre o Peptídeo-C

Por Brunno Câmara - quarta-feira, dezembro 16, 2020


O peptídeo Conector (peptídeo-C) é um polipeptídeo curto, composto por 31 aminoácidos.

Ele conecta a cadeia A à cadeia B na molécula de pró-insulina.

Para entendermos a importância do peptídeo-C, precisamos relembrar como a molécula de insulina é produzida.

Produção da insulina

Em mamíferos, a insulina é sintetizada nas células beta, localizadas nas ilhotas pancreáticas.

Ela é constituída por duas cadeias de polipeptídeos - cadeia A e cadeia B - ligadas por pontes de dissulfeto.

Porém, a insulina é primeiramente sintetizada como pré-pró-insulina.

No retículo endoplasmático rugoso, um pequeno resíduo peptídico de sinalização é clivado e a pró-insulina é formada.

Três pontes dissulfeto são formadas e mudam a conformação da pró-insulina (estrutura terciária), mas as cadeias A e B continuam conectadas pelo peptídeo-C.

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Após ser transportada para o complexo de Golgi, a pró-insulina é clivada por enzimas que liberam o peptídeo-C, e as duas cadeias ficam ligadas por pontes dissulfeto.

Tem-se, então, a molécula madura de insulina, empacotada em grânulos maduros, esperando pelos estímulos metabólicos para serem exocitadas na circulação.

Importância da dosagem de peptídeo-C

É um método útil de verificação da função das células beta pancreáticas.

Para essa avaliação, a dosagem do peptídeo-C é preferível à dosagem de insulina já que a taxa de degradação do peptídeo-C é mais lenta (meia vida: 20-30 min) que a da insulina (meia vida: 3-5 min).

Outra vantagem é que a metabolização hepática do peptídeo-C é muito baixa. Já metade das moléculas de insulina secretadas é metabolizada na primeira passagem pelo fígado.

Além disso, o peptídeo-C é depurado na circulação periférica numa taxa constante, enquanto que a insulina tem uma depuração variável.

Informações laboratoriais

Peptídeo-C sérico

A dosagem sérica de peptídeo-C tem o inconveniente de requerer análise imediata, já que esse analito pode ser facilmente degradado por enzimas.

Sendo assim, os tubos de coleta para soro devem ser transportados ao laboratório em gelo, e a amostra imediatamente centrifugada, separada e analisada ou congelada.

Porém, se for coletada em tubo com EDTA, a amostra é estável por até 24 horas em temperatura ambiente.

Em relação ao estado do paciente, a amostra pode ser coletada de forma aleatória, em jejum ou após estímulo.

  • Coleta aleatória: qualquer hora durante o dia, independente da alimentação;
  • Coleta em jejum: de 8 a 10 horas;
  • Coleta após estímulo: administração de sustacal, glucagon, glicose, tolbutamida, sulfonilureia etc.

Dentre essas opções, a dosagem sérica de peptídeo-C após estímulo com glucagon ou sustacal (suplemento alimentar), é mais sensível e específica do que as outras formas.

Em indivíduos saudáveis, a concentração plasmática de peptídeo-C, em jejum, varia de 0,81 a 3,85 ng/mL (ou 0,3 a 0,6 nmol/L) - quimioluminescência.

Peptídeo-C urinário

A maioria das moléculas de peptídeo-C são metabolizadas nos rins, sendo que 5 a 10% são excretados na urina, sem sofrer modificações.

Desse modo, o peptídeo-C pode ser dosado na urina (incluindo a de 24 horas). 

Se a amostra for coletada em ácido bórico, o peptídeo-C urinário fica estável por até três dias em temperatura ambiente.

Porém, em pacientes com doença renal crônica, a sua dosagem pode ser imprecisa.

Aplicações e Interpretação

A dosagem de peptídeo-C pode ser feita para o diagnóstico, prognóstico e resposta ao tratamento de diabetes mellitus (DM), além de ser útil no diagnóstico diferencial de hipoglicemia.

De modo geral, níveis elevados de peptídeo-C indicam aumento da produção endógena de insulina, enquanto que níveis baixos refletem a baixa produção do hormônio.

Sua concentração está elevada em pacientes com DM tipo II, insulinomas e na insuficiência renal.

Sua concentração está diminuída em pacientes com DM tipo I e na administração de insulina exógena.

Referências

Leighton, Emma et al. “A Practical Review of C-Peptide Testing in Diabetes.” Diabetes therapy : research, treatment and education of diabetes and related disorders vol. 8,3 (2017): 475-487. doi:10.1007/s13300-017-0265-4

Yosten, Gina L C et al. “Physiological effects and therapeutic potential of proinsulin C-peptide.” American journal of physiology. Endocrinology and metabolism vol. 307,11 (2014): E955-68. doi:10.1152/ajpendo.00130.2014

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
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