Entrevista sobre Pesquisa Clínica com o Biomédico Adriano José de Carvalho
Por Brunno Câmara - segunda-feira, junho 01, 2020
Conte-nos um pouco do seu currículo profissional.
Adriano José: Sou biomédico (CRBM 9098), formado pela Universidade Paulista UNIP (onde fui bolsista do PROUNI). Formei no ano de 2016 e sou pós-graduado em Pesquisa Clínica pela Faculdade de Educação em Ciências da Saúde (FECS) no Hospital Alemão Oswaldo Cruz na cidade de São Paulo – SP.Atualmente sou coordenador de pesquisa na unidade de pesquisa clínica (UPC) do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás. Coordeno alguns estudos do serviço de Endocrinologia e Pneumologia.
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Como você entrou na área de pesquisa clínica?
Adriano José: No ano de 2014, quando eu ainda estava no 6º período da faculdade e era estagiário no laboratório do HC, fui informado que o serviço de Hematologia do hospital estava à procura de um estagiário para trabalhar na área de pesquisa. Até então, não sabia quase nada a respeito da área, fiz uma entrevista com a coordenadora e o chefe do setor e acabei conseguindo. Comecei como auxiliar de pesquisa clínica.O que é a pesquisa clínica?
Adriano José: As pesquisas clínicas são estudos realizados com seres humanos para medir os parâmetros de segurança e eficácia de novos medicamentos, sendo essencial para a chegada de novas alternativas terapêuticas no mercado.Para isso, os estudos são separados em fases. Os princípios ativos (quando já se tem informações disponíveis) e que mostram possíveis vantagens terapêuticas são testados primeiramente in vitro e depois in vivo, e são chamados de estudos pré-clínicos.
Após estes testes teremos as seguintes fases:
ESTUDOS DE FASE I:
São estudos que terão pela primeira vez a participação de seres humanos, e normalmente requerem participantes saudáveis (sem a doença em questão). Geralmente o paciente recebe um determinado valor por sua participação (somente nessa fase de estudo).
Determinação de dose, seus possíveis efeitos, farmacocinética e farmacodinâmica da molécula são os principais objetivos do estudo. O número de participantes é pequeno (geralmente de 20 a 100).
Obs.: O Brasil quase não participa de estudos nesta fase (a falta de estrutura hospitalar é um dos fatores). Aqui em Goiás (especificamente em Aparecida de Goiânia) tem o ICF – Instituto de Ciências Farmacêuticas, onde se tem alguns estudos de fase I.
ESTUDOS DE FASE II:
Eficácia e segurança da medicação serão avaliados nessa fase. Participantes nessa fase serão com a doença a ser estudada. O número de participantes é um pouco maior (100 a 500).
Após resultados favoráveis nos estudos de fase II, continuam-se os testes nos estudos de fase III.
ESTUDOS DE FASE III:
Os estudos nessa fase normalmente são multicêntricos (estarão em andamento em vários centros de pesquisa no mundo). O número de participantes é maior (1000 a 5000), mas pode passar de 10.000 dependendo da área terapêutica.
Possíveis eventos adversos serão captados durante todo o andamento do estudo, e são informações importantes para a futura bula da medicação.
Obs.: Diferente dos estudos de fase I (que aqui no brasil são escassos), os estudos de fase II e, principalmente, de fase III são inúmeros aqui no Brasil. Percebe-se o interesse dos patrocinadores na nossa população, pois temos uma miscigenação étnica e genética muito grande.
Aqui no HC, coordeno apenas estudos de fase III.
ESTUDOS DE FASE IV:
São estudos que acontecem após e durante a sua comercialização. Possíveis eventos adversos ainda serão captados, pois o uso da medicação será feito por um número expressivamente maior de pessoas.
Qual são suas atribuições, enquanto biomédico, na pesquisa clínica?
Adriano José: Como sou o único coordenador do centro (Pneumo e Endocrino), todas as coletas de sangue e processamento de amostras são de minha responsabilidade. Todas as visitas programadas de acordo com o protocolo do estudo terão coletas de sangue regulares.Geralmente, os laboratórios responsáveis pelos resultados desses exames não são brasileiros. Fico responsável também pelo envio dessas amostras para fora do país.
Fico sempre de olho nos resultados de exames dos participantes, pois um resultado anormal (que não foi visto ou não estava presente antes da assinatura do termo de consentimento) pode ser um possível evento adverso importante.
Como você enxerga o mercado de trabalho nessa área (oportunidades, remuneração, locais de atuação etc.)?
Adriano José: Para ser bem sincero, quase ninguém conhece a área de pesquisa clínica. Na minha opinião, todos os cursos da área da saúde deveriam ter a disciplina de pesquisa clínica na faculdade.Mas, em geral, o mercado se concentra em hospitais universitários federais.
Remuneração
A remuneração varia de acordo com a quantidade de estudos que o coordenador fica responsável, mas geralmente varia (4 a 6 salários mínimos), dependendo do centro e do investigador principal.
Além da coordenação, existe a possibilidade de ir para a indústria. O coordenador pode virar um monitor de pesquisa (a remuneração é bem maior) ou até um gerente de projetos.
Locais de atuação
Hospitais universitários são os setores que têm mais estudos em andamento, então é onde provavelmente terá uma maior oportunidade. Além disso, centros de pesquisas particulares e indústrias farmacêuticas (o foco é em São Paulo – SP).
Muitas vezes, o patrocinador do estudo contrata uma CRO (Organização de Pesquisa Contratada) para conduzir o estudo em questão. Ela ficará responsável pela condução do estudo até o final, a seleção dos centros participantes e contrato com diversos monitores de estudo.
Quais são os requisitos para quem quer trabalhar com pesquisa clínica?
Adriano José: Inglês intermediário, passaporte em dias, pois às vezes ocorrem reuniões fora do país.Preferencialmente que a pessoa seja da área da saúde (Farmacêuticos, Enfermeiros, Biomédicos, Fisioterapeutas etc.).