Atualmente, a infecção pelo vírus da Dengue (DENV) é a doença viral transmitida por mosquito mais importante do mundo.
Assim como outros flavivírus o genoma do DENV é composto por uma fita simples de RNA. Porém, ao contrário dos outros flavivírus, ele possui quatro subtipos, denominados DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4, que são geneticamente similares mas antigenicamente distintos.
A infecção por qualquer um dos quatro sorotipos de DENV pode resultar em uma gama de manifestações clínicas, indo desde uma febre branda até um quadro hemorrágico, com a maioria dos casos (70-80%) sendo assintomáticos. Depois da infecção primária, o indivíduo fica imunologicamente protegido contra aquele sorotipo em particular.
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Diagnóstico clínico
O diagnóstico clínico da dengue é desafiador, dependendo principalmente de qual estágio da infecção a pessoa encontra-se. Dependendo da região geográfica, podem existir outros micro-organismos que causam doenças com sintomas similares ao da dengue.
Nos estágios iniciais, a doença apresenta-se como uma febre branda, parecida com a da gripe, e sintomas similares a outras doenças como influenza, Zika, Chikungunya, febre amarela e malária.
Devido a diversidade de sintomas, é essencial o uso das técnicas laboratoriais para um diagnóstico preciso.
Classificação
Em 2009, um grupo coordenado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) elaboraram uma série de diretrizes para o manejo clínico da dengue.
Além disso, eles modificaram a classificação da doença, passando de dengue febril, dengue febril com hemorragia e síndrome do choque da dengue para dengue (com ou sem sinais de alarme) e dengue grave.
Diagnóstico laboratorial
Para o diagnóstico laboratorial, diversos biomarcadores são utilizados, como a detecção do vírus (isolamento viral), a pesquisa de produtos virais (antígenos) ou a resposta imunológica do hospedeiro (imunoglobulinas). O aparecimento e duração desse biomarcadores dependem do estágio da infecção.
Isolamento viral
Esse método de diagnóstico tem sido o mais tradicional na detecção do DENV, mas está sendo gradualmente substituído pela reação de transcrição reversa, seguida da reação da polimerase em cadeia (RT-PCR) e também pelo ensaio imunoenzimático (ELISA) para captura do antígeno NS1.
Para o isolamento do DENV, amostras dos pacientes são cultivadas em células de mosquitos ou mamíferos, ou ainda em mosquitos vivos. As amostras coletadas até cinco dias após o início da infecção apresentam os melhores resultados.
O problema dessa metodologia é a demora, já que o resultado do isolamento pode demorar de dias até semanas para ficar pronto.
RT-PCR
Métodos moleculares têm sido usados com sucesso no diagnóstico da infecção pelo DENV. O ponto positivo é a rapidez no resultado, que pode ficar pronto no mesmo dia ou no dia seguinte.
Essa metodologia pode detectar o RNA viral desde o início da infecção, é sensível, específica, rápida, menos complicada e mais barata do que o isolamento viral.
Apesar dessas vantagens, a utilização da RT-PCR nem sempre é uma opção em locais remotos onde a dengue é endêmica, já que requer equipamentos especializados e profissionais treinados para realizar as análises.
Além disso, apesar de haver kits comerciais disponíveis, a maioria dos métodos de RT-PCR são desenvolvidos in house e não têm uma padronização entre os centros de diagnóstico.
Captura do antígeno NS1
A proteína viral NS1 é o alvo ideal, pois é secretada pelas células infectadas e pode ser detectada desde o início dos sintomas até nove dias ou mais, pelo menos na infecção primária.
A NS1 pode ser detectada no mesmo momento do RNA viral e antes do aparecimento dos anticorpos.
A primeira abordagem para a captura do antígeno NS1 por ELISA foi descrito em 2000. Após, foram desenvolvidos kits comerciais para captura de NS1 por ELISA e por imunocromatografia (teste rápido).
Isso revolucionou o diagnóstico de dengue e forneceu um exame simples que requer pouca tecnologia para ser executado, e agora é o novo padrão ouro no diagnóstico da infecção.
Sorologia
Existem inúmeras metodologias para a detecção das imunoglobulinas anti-DENV, incluindo inibição da hemaglutinação, imunofluorescência indireta, fixação do complemento, western blotting, ELISA entre outras.
IgM pode aparecer entre três e cinco dias na infecção primária, com pico em algumas semanas após a recuperação, permanecendo detectável por alguns meses.
IgG geralmente não aparece durante a fase aguda da infecção primária. Porém, durante a infecção secundária, há um rápido aumento de IgG em resposta aos epítopos de múltiplas proteínas compartilhados entre o primeiro e segundo sorotipo, com seu aparecimento após três dias do início da infecção.
A detecção do DENV por sorologia em locais onde existem mais de um flavivírus (Zika, Chikungunya, febre amarela) é complicado, devido a epítopos da proteína E dos flavivírus e, consequentemente, a ocorrência de reação cruzada dos anticorpos. Isso pode levar a resultados falso-positivos.
Combinação
Dessa forma, a melhor forma de diagnóstico da dengue é a combinação de detecção do vírus e dos produtos virais, juntamente com a sorologia. Além disso, o monitoramento clínico continua sendo importante, identificando os pacientes com risco de progressão para a dengue grave.
Fonte: Muller, D. A. et al. Clinical and Laboratory Diagnosis of Dengue Virus Infection. J Infect Dis, 2017.