­
­
Entrevista sobre Doping Esportivo com a Biomédica Lara Duarte | Biomedicina Padrão

Entrevista sobre Doping Esportivo com a Biomédica Lara Duarte

Por Brunno Câmara - quarta-feira, junho 01, 2016

Lara Duarte

Confira a entrevista com a biomédica Lara Duarte, que atua com Doping Esportivo. Recentemente, ela foi entrevistada pelo Jô Soares.

Conte-nos um pouco da sua trajetória acadêmica e profissional.

Lara Duarte: Me formei há dois anos na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e estágio científico em Biomoléculas na Universidade de São Paulo (USP). Me habilitei em análises clínicas e depois fiz pós-graduação na Universidade Estadual de Maringá (UEM) na área de Biotecnologia e Bioprocessos e especialização em coleta de materiais biológicos no Comitê Paralímpico Internacional (IPC).

Como você conheceu a área de doping esportivo?

Lara Duarte: Sempre gostei muito de esportes e achava fascinante a maneira como ele pode transformar vidas e pessoas. Não me contentava em ficar apenas nos bastidores e a maneira de ter contato com pessoas, ouvir histórias e exercer a Biomedicina, minha paixão, numa área que envolvia algo que gostava se encaixava perfeitamente na área dos esportes. Buscando alternativas, cheguei ao controle de dopagem.

Antes de continuar a leitura do texto, quero te convidar para conhecer meus cursos:

Continue agora com a sua leitura do texto. Espero que goste.

Quais são suas atribuições nessa área?

Lara Duarte: Eu trabalho como DCO (doping control officer ou oficial de controle de dopagem) e BCO (bloog collector officer ou oficial de coleta de sangue) para a agência do governo federal, conhecida por ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), que é ligada ao Ministério do Esporte; para a agência americana responsável pelo UFC no Brasil (USADA - United States Anti-Doping Agency); e acabo de me credenciar também como oficial para a CBF e a FIFA. Para a Confederação Brasileira de Esgrima e Confederação Brasileira de Levantamentos Básicos, sou consultora e atualmente também coordeno, junto com um comitê especial, a implantação do controle de dopagem nas competições da Liga Nacional de Basquete, como por exemplo a NBB Caixa.

Quais os tipos de amostras coletadas e as principais substâncias pesquisadas?

Lara Duarte: Basicamente, coleta-se sangue e urina. Dentre as análises em ambas amostras, especificamente há testes para várias substâncias e métodos que constam na lista de proibições do órgão internacional regulador, a WADA. Essa lista é modificada anualmente, de acordo com os avanços científicos da luta contra a dopagem. Algumas substâncias comuns são GH [hormônio do crescimento], esteroides, drogas recreativas, diuréticos e EPO [eritropoetina]. Há também os exames de passaporte biológico, que traça um gráfico com perfil sanguíneo e metabólico do atleta e agora, mais moderno, há também o teste de perfil esteroidal, mais eficiente para detectar uso de esteroides mesmo se o atleta estiver fazendo "ciclos" na tentativa de burlar o teste.

Onde são realizadas as análises das amostras?

Lara Duarte: Existem laboratórios específicos para isso, credenciados e autorizados pela WADA. Existem 34 espalhados pelo mundo, e um deles fica no Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). São utilizados aparelhos e técnicas super modernos, como a espectrofotometria, com acurácia elevada, e por isso o custo dos exames é altíssimo.

Você já participou de quais eventos esportivos? Você vai participar dos Jogos Olímpicos 2016, aqui no Brasil?

Lara Duarte: Nossa, são muitos eventos! Mas posso dizer que trabalhei com a Organização Desportiva Pan-americana (ODEPA) na última edição dos Jogos Pan-americanos de Toronto, no Canadá (2015), e alguns dos grandes eventos do UFC, aqui no Brasil. Minha convocação para os jogos olímpicos Rio 2016 acabou de sair e eu estou muito ansiosa pela experiência que há de vir. Não há como sair da mesma maneira que se entrou de um evento desse porte.

Como é o mercado de trabalho e qual a forma de inserção do biomédico nessa área?

Lara Duarte: É uma área restrita e com poucos profissionais de biomedicina atuando. Uma sugestão é seguir os estudos em fisiologia esportiva, biomoléculas e bioquímica. A porta de entrada pode ser por meio da análise das substâncias no laboratório ou por meio da coleta de materiais biológicos, que é o que eu exerço, atualmente. Pensar fora do óbvio é a melhor maneira de encontrar algo novo para fazer dentro da nossa formação, que é uma das mais completas do mercado.

Que dicas você dá para quem quer seguir nessa área?

Lara Duarte: Não despreze os conhecimentos que a faculdade lhe traz, como por exemplo a coleta de sangue. Muitos alunos acham que essa é uma função do técnico de enfermagem, por exemplo. Porém, no controle de dopagem no Brasil, apenas profissionais médicos, enfermeiros e biomédicos têm autorização legal para esse tipo de coleta e com um pequeno detalhe: não podemos errar pois, por regra, temos um limite de tentativas e locais permitidos para venopunção.

Se eu não tivesse aprendido as técnicas na Faculdade, jamais poderia fazer meu trabalho. Outro ponto importante é o idioma estrangeiro. Participamos de muitas competições internacionais e as línguas mais faladas são espanhol, inglês e francês. É uma habilidade fundamental para essa carreira.

Qual é a sensação de ser entrevistada pelo Jô Soares?

Lara Duarte: O Jô foi muito atencioso, assim como toda a equipe do programa. Foi uma honra e um orgulho poder falar da Biomedicina e sua importância nesse cenário, em um ano em que o Brasil é o principal personagem da maior competição esportiva do mundo. É uma pena que seja tão rápido! Há muito mais o que falar, mas saí de lá com a sensação de dever cumprido.

Considerações finais.

Lara Duarte: Gostaria de agradecer o espaço que me foi dedicado no blog, respeito, interesse e acima de tudo paciência com a minha agenda, que não está fácil! Tenho um orgulho imenso da minha formação e não pretendo parar os estudos ao longo da carreira. O doping esportivo, antes de tudo, é uma das inúmeras questões de saúde publica que devem ser observadas, pois além da questão ética e moral, há doenças graves relacionadas a este tipo de prática e que a ciência tenta combater e prevenir por meio dos controles e da informação.

Me coloco a disposição para conversar sobre o assunto longamente e esclarecer possíveis dúvidas e interesses no nosso trabalho. Muito obrigada!

Contato: facebook.com/lara.duartesanti

Agradeço a biomédica Lara Duarte por aceitar o convite e ter falado sobre doping esportivo. Desejo sucesso para você nas Olimpíadas de 2016, e que ninguém seja pego por doping rsrs. Parabéns pelo trabalho.

Brunno Câmara Autor

Brunno Câmara - Biomédico, CRBM-GO 5596, habilitado em patologia clínica e hematologia. Docente do Ensino Superior. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas - UFG (HC-UFG). Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (imunologia, parasitologia e microbiologia / experiência com biologia molecular e virologia). Criador e administrador do blog Biomedicina Padrão. Criador e integrante do podcast Biomedcast.
| Contato: @biomedicinapadrao | WhatsApp |